quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Desejo a Você...


Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
... Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Saber Desfrutar Todos os Tempos

"Nós mostramo-nos ingratos em relação ao que nos foi dado por esperarmos sempre no futuro, como se o futuro (na hipótese de lá chegarmos) não se transformasse rapidamente em passado. Quem goza apenas do presente não sabe dar o correcto valor aos benefícios da existência; quer o futuro quer o passado nos podem proporcionar satisfação, o primeiro pela expectativa, o segundo pela recordação; só que enquanto um é incerto e pode não se realizar, o outro nunca pode deixar de ter acontecido. Que loucura é esta que nos faz não dar importância ao que temos de mais certo? Mostremo-nos satisfeitos por tudo o que nos foi dado gozar, a não ser que o nosso espírito seja um cesto roto onde o que entra por um lado vai logo sair pelo outro! "

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Entrevista a Mia Couto - Jornal i


Finalmente um tema sobre o assunto central deste blog. Entrevista de Mia Couto que fala precisamente daquilo que acho: uma necessidade de existir algo mais que relacione países que falam a mesma língua.
Destaco a ideia de que este países precisam de voltar a se conhecer melhor. E outra que expressa esta ideia de que o Brasil é apenas uma potencia económica: é também, como já ouvi Miguel Sousa Tavares referir, uma potencia Cultural.
Como se vê e como nos diz este Moçambicano branco, há muito mais para se discutir do que apenas o Acordo Ortográfico.

Disse.


É um dos escritores de língua portuguesa com maior destaque a nível mundial. Pensa que a nossa língua é o nosso maior bem?

Não sei muito bem. Acho que nós provavelmente glorificamos e veneramos esta entidade a que chamamos língua portuguesa. Ela existe num contexto de história, de partilha de saberes, de partilha de culturas, de histórias com "h" minúsculo que me parece que não podem ser separadas. Normalmente, pensamos neste entidade como um corpo que depois se autonomiza e é tratado por linguistas e é objecto de acordos e desacordos. Acho que essa fusão de pequenas histórias, de coisas, vai para além desse corpo a que chamamos língua. É uma carga de sentimento, está incorporado, constitui uma memória genética. Não é que eu não queira celebrar a língua portuguesa como um património que evidentemente é importante e nos coloca no mundo como um corpo colectivo que é a comunidade dos países de língua portuguesa, mas acho que não devemos ficar prisioneiros desse elemento redutor.


O Brasil é visto como uma das grandes potências de futuro e é já uma das maiores economias a nível mundial. É pelo Brasil que passa o futuro de países como Portugal, mas também Angola e Moçambique?
É praticamente inevitável, pela força económica e pela vitalidade do Brasil. Não se trata apenas de uma potência económica, mas também cultural e demográfica. O Brasil será a nossa estrela guia, para o bem e para o mal, e eu não vejo problema nenhum nisso. Felizmente, sou de um país pequenino, que não tem pretensão nem nunca teve de ser líder de qualquer coisa.

Falemos então do acordo, ou desacordo ortográfico. Como natural de Moçambique e falante da língua portuguesa, o que acha deste acordo, que já está em vigor, para o bem ou para o mal?
Não sou um militante contra o acordo. Não me reconheci em algumas da razões que foram invocadas para chegar a este acordo, como por exemplo que este acordo facilitaria um melhor entendimento entre a língua. Sempre li livros do Brasil e com o maior prazer, pelo facto de eles terem uma grafia ligeiramente diferente. Os meus livros e os de Saramago são publicados com a grafia original e nunca ninguém se queixou. Acho inclusivamente que há uma diferença na grafia que só traz valor. Mas não faço guerra ao acordo. As nossas guerras são outras, é perceber porque é que nós, países de língua portuguesa como Portugal ou Moçambique, estamos tão distantes do Brasil, porque é que o Brasil está tão distante de nós. Por que razão é que um filme português no Brasil tem de ser legendado. Porque é que quando eu chego ao Brasil e digo que sou de Moçambique, ninguém sabe onde é ou o que é Moçambique.

É ecologista e biólogo de formação. Diz-se muito que não estamos a tratar bem o nosso planeta. Quais são então os grandes desafios, o que temos que fazer para salvar a Terra?
Há aqui uma fabricação de medo, uma visão de apocalipse na qual eu não alinho e a presunção de que nós somos o centro. A ideia de que o homem tem de proteger o planeta e salvar a natureza é uma concepção quase infantil. O nosso primeiro dever é perceber determinadas coisas que vão muito para além da arrogância do ser humano. Falamos com uma facilidade enorme do clima, das previsões sobre as mudanças climáticas, mas a verdade é que grande parte das razões que regem o nosso clima estão para além do nosso alcance. Por outro lado, as notícias apocalípticas vendem bem. Uma notícia que diga que ainda não sabemos bem os efeitos dos raios ultravioletas ou do dióxido de carbono não vende.

A sua escrita fala muito de sensações, da pele, do ser humano. Numa altura em só ouvimos falar de agências de rating, acha que temos de voltar à nossa essência?
Estamos no caminho errado, mas não sei se o verbo seria "voltar". Temos de avançar e construir uma outra visão do mundo. Aquilo que chamamos "a grande crise" vai ser muito produtiva, porque nos vai pôr perante novas soluções, novas emergências, novos enquadramentos.
Por exemplo, fora dos contextos tradicionais das assembleias e dos partidos, jovens em várias partes do mundo pegaram nas rédeas, usando mecanismos modernos, como a internet, o twitter, o facebook, e criaram um movimento de mobilização. De repente é tudo imprevisível. Não sabemos e temos muito medo de não saber.
Fomos educados para pensar que o mundo é previsível e quando não é ficamos aterrorizadíssimos. Há uma grande alegria de dizer não sei hoje. Temos de reaprender coisas que são básicas, como por exemplo a distinção entre saber e sentir. Valorizamos o saber como coisa masculina e desvalorizamos o sentir como coisa feminina. Isso é absurdo. São fronteiras que arbitrariamente construímos. Não sei onde termina o saber e começa o sentir. São fundamentos do nosso conhecimento que temos de contestar.
Sou um optimista sem esperança. Penso que não chegámos ao fim e há sempre algo a fazer.


http://www.ionline.pt/conteudo/121362-mia-couto-o-brasil-vai-ser-nossa-estrela-guia

terça-feira, 3 de maio de 2011

Trecho muito interessante do livro expoente de José Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas. Leia:

Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é a salvação-da-alma... Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio... Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele, Cardéque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matia é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me refresca. Mas é só muito provisório. Eu queria rezar - o tempo todo. Muita gente não me aprova, acham que lei de Deus é privilégios, invariável. E eu! Bofe! Detesto! O que sou? - o que faço, que quero, muito curial. E em cara de todos faço, executado. Eu? - não tresmalho!
http://meubigode.blogspot.com/2009/07/o-grande-sertao-veredas.html

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Taxi Lunar


Bom... na realidade, não sei bem o que escrever, ou melhor, sobre o que escrever. Não escrevia fazia um tempo, e desde que escrevi uma tese descobri que escrever é bom! Liberta-nos a mente e obriga-nos a pensar...
Estava eu a pensar em dormir desde que cheguei a casa por volta das dez da noite, quando fico escravo, como já vem sendo hábito, de um facebook que me conecta a um mundo que eu não sei se faz muito sentido, mas há falta de melhor, melhor que nada... funciona como uma droga e a ilusão que ela nos cria. O facebook faz-nos estar com pessoas que não estamos, faz-nos ver coisas que não vemos e permite-nos viajar, de lugar para lugar, de ano para ano, a uma velocidade que também não é a do nosso mundo. Mas a vantagem do facebook é que nos permite levar para o "mundo real" um pedacinho do que vamos vendo nesse outro, bem diferente.
Hoje, estava a visitar (a ver) uma amiga minha e eis que vejo uma foto dela a tocar violão, e lembro-me rapidamente de, quando viajamos para Diamantina ela tocar violão no Onibus (vou usando a giria brasileira) a música Táxi Lunar de Zé Ramalho. E de pensar imediatamente: "Há quanto tempo eu não ouvia esta música!", o que acreditem que é muito bom para quem ouve musica brasileira, doentiamente e penosamente todos os dias!!! Fui escuta-la, pois era imperdoável tanto tempo sem o fazer...!
Lembrei-me imediatamente a seguir da menina que me apresentou à música, e lembrei-me da única vez que estive com ela, num boteco em Belo Horizonte em Minas Gerais. Ah! Como ela era simpática... e bonita! Uma indiazinha! Pena que ela namorava. E lembrei-me da forma como depois a vida, impeadosamente, me foi fazendo desencontrar com ela. E recordei também as voltas que a vida podia ter dado se tivesse conhecido a menina do violão, antes de uma outra.
Recordei a viagem pequena que fiz por Minas Gerais... as diferenças do Interior... de como foi boa! As incursões pela cultura do fórro, do sertanejo e do frevo. É bom lembrar-me de um certo apelo que estes artistas do Nordeste e Interior me provocam de forma inexplicável.
É impressionante, o que uma música pode fazer. Uma espaçonave preparada para nos levar para qualquer lugar, para qualquer pessoa. E só com o poder da nossa mente!!!!

TAXI!!!!

segunda-feira, 14 de março de 2011

A Lição do Chico

Eu sei que este blog foi criado com o intuito de pensar acerca de questões da lusofonia, eu sei... eu sei também que se calhar não devia ser tão devassador de mim próprio como vou ser agora... mas a verdade é que não existe assim tanta gente a ler este blog, e para além disso os poucos leitores que fazem o esforço são meus amigos, então, na verdade, não devo sentir assim tão devassado.
Poderia estar preocupado uma vez que este post nem sequer vai ter assim tanto interesse, vai ser um mero desabafo! No entanto, nem assim tão descontextualizado, uma vez que chego à conclusão que eu próprio sou um problema da lusofonia!
Sou mais um marinheiro que desde o século XV, se apaixonam por outro lugares, que saltam da Nau e nadam outra vez para Terra pois não querem regressar... à sua casa! Mas quem não quer regressar à sua casa?! Só se for quem já está em casa... E será que é possível ter-se mais que uma casa? A verdade é que até hoje, não se sabe bem se os navegadores saltavam da Nau por amor ou por medo da viagem de regresso...!
Bom, a verdade é que eu não pude saltar do avião!
Mas então, e quando nos apaixonamos por pessoas que estão, que vivem, nos lugares pelos quais estamos apaixonados? Vos garanto que também relativamente a este assunto sou apenas mais um marinheiro!
O velho dilema entre fazer o correcto, fazer o certo (que as vezes não é o correcto) ou fazer o que queremos (que raras vezes é o correcto ou o certo).
Apenas mais um a contribuir para a melancolia assumida do fado português, a contradição entre musica e mensagem do samba, a síntese entre os dois que é o chorinho, e o hipnotismo que os ritmos africanos causam nisto tudo! Mas no fundo todos "animados" por esse sentimento que é a saudade e que só nós conseguimos traduzir em apenas uma palavra!
Conclusão: andamos há séculos, literalmente, a magoar-nos uns aos outros! Andamos sempre à procura de fazer o correcto e de fazer o correcto em vez de fazermos o que queremos!
Pior de tudo é quando já só podemos utilizar o verbo querer no passado!
Eu escolhi o fazer o certo, o correcto, e um pouco do que queria (sim, porque eu também quero fazer certo e correcto), mas na verdade não fiz tudo o que QUERO!
Estou à espera do momento certo, seja ele promovido por mim, porque a vida nem sempre decide ser ainda mais amiga do que já é, e nem sempre precipita a oportunidade de fazer o que Quero na sua plenitude!
Até lá, vou indo, vou aprendendo a viver com a saudade que mais não é como um vulcão que umas vezes esta "adormecido" e outras vezes em "erupção"... de sentimentos que queimam!
Mais difícil é conseguir adormecer este vulcão de novo!!!

A saudade de quem se gosta é mais ou menos como o Chico escreveu: "Quem te viu, quem te vê/ Quem não a conhece não pode mais ver para querer/quem jamais a esquece não pode reconhecer."

Há poucas coisas piores do que se reconhecer e não se poder estar!

Disse.

quarta-feira, 2 de março de 2011

ainda a propósito do post anterior... e os pretos da batalha de Lális

A propósito do Vinícius se considerar preto, dos livros do português Miguel de Sousa Tavares serem considerados "literatura estrangeira" nas livrarias brasileiras, e de provavelmente a literatura brasileira e africana terem a mesma designação nas livrarias portuguesas, devo referir também que soube através do meu querido Professor Domingos Tavares que, na época da Grande Guerra (1914-18) os soldados franceses ficaram muito impressionados quando conheceram as tropas Portuguesas pois estavam perfeitamente convictos de que os portugueses eram pretos!


Se um brasileiro se considerava preto, e se os franceses nos consideravam pretos...então se calhar somos todos pretos...!!

Os pretos soldados portugueses da Grande Guerra.

fonte: projecto9b.blogs.sapo.pt/1708.html

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

porque é que o Zeca Afonso não viveu tanto tempo como o Vinícius de Moraes?!



Terminei agora de ver um filme/documentário sobre a vida/obra de Vinicius de Moraes.
Confesso que não sei o que hei-de de escrever... mas mesmo sabendo que o texto pode ficar uma merda, só sei que tenho de escrever agora senão amanhã não me vou lembrar de um terço das coisas que me passam agora pela cabeça.
Bom, sempre achei, com base nas canções que vou ouvindo e tendo a ousadia de cantar, que o que torna o Vinicius brilhante é parecer que ele sabe mais da vida do que os outros!!!! Ele acerta em tudo! Ele tem essa capacidade: de tornar os seus poemas, as suas vivências, em episódios nossos, assim como, num processo não-racional a fêmea do porco - a porca portanto - desencadeia todo o processo hormonal para poder dar assistência maternal a umas crias de cachorro.
No entanto, nunca entendi muito bem qual era o encanto deste homem. Qual a sua importância no meio deste processo cultural. Sempre achei o Chico Buarque, o Tom Jobim, mais competentes. Eu devo avisar a quem possa ler isto que eu sou terrivelmente ingénuo e portanto achei de um brilhantismo pessoal fantástico ter chegado à conclusão, hoje, de que a Porca desta História toda foi o Vinicius de Moraes. E diga-se é ai que está sua virtude.
Em primeiro lugar, o seu percurso é um exemplo para nós que achamos que queremos ser incríveis e revolucionários e não sei o quê lá logo de inicio. Ele foi um menino com uma formação católica tradicional, que começou a ser poeta da forma mais clássica que possamos imaginar. Mas isso não o impediu de se reinventar. De procurar novas possibilidades. E pode fazê-lo porque tinha as ferramentas - as clássicas - que lhe permitiram avançar ao invés de se ficar a lamentar porque aquilo "que devia ser", "que era bom", mas que ainda faltava o percurso a ser percorrido para ser descoberto.
Eu acredito, sinceramente, que quando se inventou o avião não se queria apenas "poder voar". Na verdade queria-se chegar á Lua! O foguetão não é mais que um avião que anda muito mais rápido que os aviões normais. Mas tivemos de aprender a voar primeiro.
Em segundo, lugar aprendi hoje que Vinicius, para além de conhecer as ferramentas, quis torna-las populares, mundanas queria que os outros soubessem aquilo que ele sabia, pois percebeu claramente que seria a única forma de ser compreendido, "demonstrando o seu amor pelos outros, e recebendo amor em troca."
Em terceiro lugar, e mais importante de todas, como dizem no próprio video: "ele estava demasiado apaixonado pelo ser-humano". Ele queria estar junto com outras pessoas, queria que essas pessoas partilhassem com ele coisas novas e dando exemplo, abria as portas de sua casa a quem quisesse entrar e participar em tertúlias de composição intermináveis.
Para o Vinicius afirmo com o pouco rigor que isso possa implicar, que importava a paixão e nada mais! Viver a vida e as pessoas de forma apaixonada era o que interessava. Foi assim com os seus parceiros, foi assim com as suas mulheres (casou nove vezes!) Quando foi viver para a Salvador da Bahia e conheceu a negra que que comandava na época a religião negra da cidade, cujo o nome/cargo agora não lembro, Gal Costa conta no filme que todos se sentavam no chão quando estavam com ela, mas Vinicius, a mando dela, não! Iam buscar uma cadeira! Ela lá saberia porque! Era um sedutor dos humanos! Quando via hoje o filme parece que conseguia sentir a sua presença!

Não sei se este meu fascínio, pelo Vinicius, pela cultura brasileira é uma limitação minha. Não sei se isso é o correcto, viver num lado sabendo que a cabeça esta bastantes vezes noutro, também não sei se é mais correcto escrever "correto" ou "correcto", mas isso pouco me importa!
Não sei se passei a gostar muito destes personagens da cultura brasileira só porque gosto muito de lá. Nem sei também se gosto muito de lá pelos que lá deixei... Nem muito menos sei se deixei lá a minha cabeça ou o meu espírito... provavelmente é um pouquinho de tudo. Mas repito pouco me importa! Só sei que gosto!
Vinicius dizia que era o branco mais preto! Melhor, dizia que era preto! Ponto!
Eu digo, dentro da minha humildade, que sou um português mais brasileiro. No entanto, doeu-me na alma, custou-me, comprar numa livraria de um shopping qualquer de Rio de Janeiro um livro para o meu irmão do Miguel de Sousa Tavares, na secção de Literatura estrangeira!!!!! Como assim?! Faz algum sentido?! Mas é assim, infelizmente...
Também, gosto muito daquele conjunto de artistas, que se encontravam nessa Lisboa dos finais do século XIX, inícios de XX do Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Santa Rita-Pintor, Amadeo de Souza Cardozo... houve ali qualquer coisa de parecido com este movimento de reflexão, mas não sei qual deles seria o Vinicius. Pouco importa.
A seguir veio a ditadura e estragou tudo, ou os nossos artistas foram pouco...revolucinários... resignaram-se, dando azo àquela expressão que diz que nós os portugueses somos um povo de brandos costumes. Ou então a nossa ditadura foi muito eficaz e a a dos brasileiros não, mas o Oscar Niemeyer e o Chico tiveram-se de exilar. E o Chico também escreveu musicas de intervenção politicas como o Zeca Afonso. Então se calhar o Zeca viveu pouco tempo, e nós hoje... sei lá...! Preciso, precisamos reflectir.

Quando perguntavam ao Vinicius se ele acreditava na reencarnação e essas coisas, ele respondia: "se isso existir, eu gostava de voltar exactamente do mesmo jeito que sou... não mudava nada... só queria vir com um pau só um pouquinho maior!"

Disse.




terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"20 paus"


Da esplanada em vão me projecto
Para lá de onde me sinto.
Tento ver sem me ver
Na esperança súbita de saber
Em que movimentos me finto.

Naquel entrecruzar constante
Neste chocar sem chocar
Onde o espaço é quase tudo
e o tempo quase nada
me tento em vão ver passar.

Uns vão rindo outros sorrindo
outros vão de rosto mudo
há quem simplesmente vá indo
Na fé que o vento varra tudo

Mas eis que um olhar diferente
vestes tu a esvoaçar
como se há muitos prédios
não nos tirassem o ar.

Na fronte leva a certeza
De mar manso em lua cheia
deixo vinte paus na mesa
vou apanhar a boleia.

musica Esplanada, dos Trovante.

Porque há muito tempo não ouvia a expressão "20 paus", que imediatamente me fez viajar no tempo. Tive um tempo de volta! Nunca pensei que isso fosse possivel, resgatar tempo! Aprendi isso hoje!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

se consta...



Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca

domingo, 30 de janeiro de 2011

conversas com José Saramago


" A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes só podem prologar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante, se sentou na areia da praia e disse "não há mais que ver", sabia que não era assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra. (...) É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante já volta."


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011