segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

porque é que o Zeca Afonso não viveu tanto tempo como o Vinícius de Moraes?!



Terminei agora de ver um filme/documentário sobre a vida/obra de Vinicius de Moraes.
Confesso que não sei o que hei-de de escrever... mas mesmo sabendo que o texto pode ficar uma merda, só sei que tenho de escrever agora senão amanhã não me vou lembrar de um terço das coisas que me passam agora pela cabeça.
Bom, sempre achei, com base nas canções que vou ouvindo e tendo a ousadia de cantar, que o que torna o Vinicius brilhante é parecer que ele sabe mais da vida do que os outros!!!! Ele acerta em tudo! Ele tem essa capacidade: de tornar os seus poemas, as suas vivências, em episódios nossos, assim como, num processo não-racional a fêmea do porco - a porca portanto - desencadeia todo o processo hormonal para poder dar assistência maternal a umas crias de cachorro.
No entanto, nunca entendi muito bem qual era o encanto deste homem. Qual a sua importância no meio deste processo cultural. Sempre achei o Chico Buarque, o Tom Jobim, mais competentes. Eu devo avisar a quem possa ler isto que eu sou terrivelmente ingénuo e portanto achei de um brilhantismo pessoal fantástico ter chegado à conclusão, hoje, de que a Porca desta História toda foi o Vinicius de Moraes. E diga-se é ai que está sua virtude.
Em primeiro lugar, o seu percurso é um exemplo para nós que achamos que queremos ser incríveis e revolucionários e não sei o quê lá logo de inicio. Ele foi um menino com uma formação católica tradicional, que começou a ser poeta da forma mais clássica que possamos imaginar. Mas isso não o impediu de se reinventar. De procurar novas possibilidades. E pode fazê-lo porque tinha as ferramentas - as clássicas - que lhe permitiram avançar ao invés de se ficar a lamentar porque aquilo "que devia ser", "que era bom", mas que ainda faltava o percurso a ser percorrido para ser descoberto.
Eu acredito, sinceramente, que quando se inventou o avião não se queria apenas "poder voar". Na verdade queria-se chegar á Lua! O foguetão não é mais que um avião que anda muito mais rápido que os aviões normais. Mas tivemos de aprender a voar primeiro.
Em segundo, lugar aprendi hoje que Vinicius, para além de conhecer as ferramentas, quis torna-las populares, mundanas queria que os outros soubessem aquilo que ele sabia, pois percebeu claramente que seria a única forma de ser compreendido, "demonstrando o seu amor pelos outros, e recebendo amor em troca."
Em terceiro lugar, e mais importante de todas, como dizem no próprio video: "ele estava demasiado apaixonado pelo ser-humano". Ele queria estar junto com outras pessoas, queria que essas pessoas partilhassem com ele coisas novas e dando exemplo, abria as portas de sua casa a quem quisesse entrar e participar em tertúlias de composição intermináveis.
Para o Vinicius afirmo com o pouco rigor que isso possa implicar, que importava a paixão e nada mais! Viver a vida e as pessoas de forma apaixonada era o que interessava. Foi assim com os seus parceiros, foi assim com as suas mulheres (casou nove vezes!) Quando foi viver para a Salvador da Bahia e conheceu a negra que que comandava na época a religião negra da cidade, cujo o nome/cargo agora não lembro, Gal Costa conta no filme que todos se sentavam no chão quando estavam com ela, mas Vinicius, a mando dela, não! Iam buscar uma cadeira! Ela lá saberia porque! Era um sedutor dos humanos! Quando via hoje o filme parece que conseguia sentir a sua presença!

Não sei se este meu fascínio, pelo Vinicius, pela cultura brasileira é uma limitação minha. Não sei se isso é o correcto, viver num lado sabendo que a cabeça esta bastantes vezes noutro, também não sei se é mais correcto escrever "correto" ou "correcto", mas isso pouco me importa!
Não sei se passei a gostar muito destes personagens da cultura brasileira só porque gosto muito de lá. Nem sei também se gosto muito de lá pelos que lá deixei... Nem muito menos sei se deixei lá a minha cabeça ou o meu espírito... provavelmente é um pouquinho de tudo. Mas repito pouco me importa! Só sei que gosto!
Vinicius dizia que era o branco mais preto! Melhor, dizia que era preto! Ponto!
Eu digo, dentro da minha humildade, que sou um português mais brasileiro. No entanto, doeu-me na alma, custou-me, comprar numa livraria de um shopping qualquer de Rio de Janeiro um livro para o meu irmão do Miguel de Sousa Tavares, na secção de Literatura estrangeira!!!!! Como assim?! Faz algum sentido?! Mas é assim, infelizmente...
Também, gosto muito daquele conjunto de artistas, que se encontravam nessa Lisboa dos finais do século XIX, inícios de XX do Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Santa Rita-Pintor, Amadeo de Souza Cardozo... houve ali qualquer coisa de parecido com este movimento de reflexão, mas não sei qual deles seria o Vinicius. Pouco importa.
A seguir veio a ditadura e estragou tudo, ou os nossos artistas foram pouco...revolucinários... resignaram-se, dando azo àquela expressão que diz que nós os portugueses somos um povo de brandos costumes. Ou então a nossa ditadura foi muito eficaz e a a dos brasileiros não, mas o Oscar Niemeyer e o Chico tiveram-se de exilar. E o Chico também escreveu musicas de intervenção politicas como o Zeca Afonso. Então se calhar o Zeca viveu pouco tempo, e nós hoje... sei lá...! Preciso, precisamos reflectir.

Quando perguntavam ao Vinicius se ele acreditava na reencarnação e essas coisas, ele respondia: "se isso existir, eu gostava de voltar exactamente do mesmo jeito que sou... não mudava nada... só queria vir com um pau só um pouquinho maior!"

Disse.




terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"20 paus"


Da esplanada em vão me projecto
Para lá de onde me sinto.
Tento ver sem me ver
Na esperança súbita de saber
Em que movimentos me finto.

Naquel entrecruzar constante
Neste chocar sem chocar
Onde o espaço é quase tudo
e o tempo quase nada
me tento em vão ver passar.

Uns vão rindo outros sorrindo
outros vão de rosto mudo
há quem simplesmente vá indo
Na fé que o vento varra tudo

Mas eis que um olhar diferente
vestes tu a esvoaçar
como se há muitos prédios
não nos tirassem o ar.

Na fronte leva a certeza
De mar manso em lua cheia
deixo vinte paus na mesa
vou apanhar a boleia.

musica Esplanada, dos Trovante.

Porque há muito tempo não ouvia a expressão "20 paus", que imediatamente me fez viajar no tempo. Tive um tempo de volta! Nunca pensei que isso fosse possivel, resgatar tempo! Aprendi isso hoje!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

se consta...



Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca